Números enormes: SAP, a internet das coisas e o curioso mundo corp
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Números enormes: SAP, a internet das coisas e o curioso mundo corp

SAP SAPPHIRE 2015: evento para 20 mil pessoas que passam três dias em Orlando conhecendo os próximos passos do que a gigante de software corporativo vai tomar. Espaço para um keynote principal, uma feirinha de expositores, vários palcos paralelos abertos – me lembrou uma Campus Party, mas com dinheiro.

O mantra, no geral, é “mundo corporativo, deixe suas soluções de Tecnologia da Informação com a gente e vá ganhar dinheiro com seu negócio deixando seu cliente feliz”.

E faz sentido para quem (como eu) está acostumado a ver apenas a outra ponta da tecnologia – a voltada ao consumidor final.

Tenho uma teoria de que jornalistas (e blogueiros) adoram contar casos sobre a vida nas empresas. Já trabalhei em lugares em que notícias sobre gestão de processos e carreiras davam audiência e prestígio ao veículo, com um sério problema: o autor das matérias tinha zero ideia de como funciona o mundo real.

Mundo real? Sim, aquele com impostos, encargos, taxas, burocracias que surgem do nada, multas estranhas, funcionários esquisitos, sócios maníacos (ops!) e afins. Que tem que lidar com o fornecedor de tecnologia, de produto, com gente em geral (acho que esse caso resume um pouco o que quero dizer: jornalistas estavam acostumados a empregos fixos e de repente estão na rua e não têm nem uma conta de e-mail pessoal).

E, em tecnologia – cobrindo isso desde 1999 (saudades, bug do milênio!) – eu sempre vi isso do lado consumidor. Antes que alguém reclame: tenho empresa, pago impostos, lido com fornecedor, brigo com o contador, reclamo com o plano de saúde e gerencio meu servidor.

Digressões à parte, vir ao SAPPHIRE foi interessante por dois motivos:  eu não estou na briga pela notícia mais rápida do mercado corporativo (nem quero estar) e aprendi um monte de coisas de bastidor de tecnologia que mostra como somos cada vez mais dependentes para ter uma vida mais fácil  – e o fato de saber que ela existe ajuda a entender melhor como as coisas funcionam (mesmo que você ache o tema um porre).

O mundo de TI corporativa, assim como o dos eletrônicos de consumo, vive de jargões e tecnologias-que-se-você-não-adotar-agora-vai-ficar-para-trás. Uma delas é o tal do Big Data: toda empresa (e pessoa) gera muitos dados, mas o que diabos fazer com isso?

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No caso da SAP – todo um sistema integrado de banco de dados, gerenciamento financeiro, relações com clientes, recursos humanos e por aí vai – a ideia é que o cliente (uma grande empresa como Colgate-Palmolive, por exemplo, ou um laboratório de diagnósticos) compre a plataforma toda (modular, complicada de instalar, mas que gera um ecossistema de parceiros e consultores que fazem isso para o cliente) e tenha tudo mais fácil para gerenciar seja lá qual for seu produto/serviço final – seja ele um sabonete, mineração ou uma passagem aérea. O resultado, sempre, será em forma de produto/serviço e… dados.

“Dados são a base de cada empresa digital. Mas 90% dos dados estão no escuro”, disse o CEO Bill McDermott na abertura do SAPPHIRE (pelas histórias que contou, é fã de felinos). “Dados dão poder para as pessoas.” E aí sistemas como o S/4 Hana (o mais novo produto da SAP) são modulares e reúnem tudo para os diretores e gerentes da empresa. Ah sim, abaixo é um exemplo de tela de dados consolidados de uma empresa hipotética.

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E aí o que fazer com esses dados? Resolver problema do cliente.SAP SAPPHIRE 2015 - 9

Um exemplo simples: um avião precisa sair de Frankfurt com destino a Dubai. O voo está atrasado, são centenas de passageiros que terão de esperar mais um dia para poder embarcar.

O S/4 Hana (num mundo ideal totalmente integrado e funcional) consegue “ver” os dados dos passageiros, separar uma dúzia de prioridades (VIPs, passageiros frequentes, crianças ou pais com crianças) que precisam voar naquele dia e já oferecer uma solução automática – seja um voo antes, um upgrade ou uma troca de rota que pode até fazer chegar antes do horário do voo do dia seguinte, em uma única tela para o operador.

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Outra descoberta interessante foi ver que a tal “internet das coisas” já existe e está em funcionamento – só que apenas agora começamos a ver isso na nossa realidade com sensores, wearables e lâmpadas inteligentes. O mesmo S/4 Hana, conectado a fontes de dados, gera inteligência analítica para tomada de decisão.

Pode ser logo ali em Buenos Aires com uma prefeitura ultraconectada que tenta antecipar problemas (como um bueiro entupido que pode gerar uma enchente). Pode ser no porto de Hamburgo, onde sem espaço físico para crescer, a administração aumentou a capacidade de carga do porto em 178% (!!) otimizando logística de trânsito, caminhões, tempo de navios atracados e toda a cadeia do processo.

Também pode ser em uma mina de carvão, onde milhares de sensores nos caminhões de carga mandam dados em tempo real e vão para manutenção antecipada quando o sensor indica algum potencial problema.

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Ou pode ser em uma das companhias de energia do Texas, a CenterPoint, que me fez ficar pensando “putz, isso seria incrível ter no Brasil um dia”. Resumindo a história: a cidade de Houston recebe energia da CenterPoint. Em vez de esperar uma tempestade com raios explodir um transformador ou deixar que a vida selvagem destrua naturalmente a infraestrutura, a CenterPoint instalou mais de 100 mil sensores nas ruas.

Esses sensores indicam o estado da rede elétrica na cidade. Na foto de mapa abaixo, pontos verdes mostram que está tudo OK, mas pontos vermelhos são problemas.

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Na central de operações, ao perceber e prever problemas no painel geral do S/4 Hana, a CenterPoint pode mandar as ordens de reparo para a equipe técnica na rua – que recebe nos smartphone e até em um Apple Watch (!).
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“Negócios são o que importa para as empresas. Uma pessoa passa milhares de horas trabalhando na vida. Se o negócio for simplificado, a vida segue mais simples”, filosofa o CEO-fã-de-gatinhos. Essa simplificação pode estar numa infra-estrutura própria de TI dentro da firma ou rodando direto na nuvem.

“O legal é que isso é o futuro e tudo vai estar conectado em uma nova economia”, me explicou Desmond Mullarkey, vice-presidente de soluções da SAP América Latina (que me deu uma aula rápida sobre S/4 Hana. obrigado!). “Em breve, poderemos ter melhores serviços e cada vez mais personalizados para cada indivíduo, como um seguro de carro para quem usa somente durante a semana e não sai de casa aos sábados e domingos”, disse.

Ah sim: para quem acha que SAP é caro (e, bem, é), deu para perceber no evento que a empresa vem passando por uma mudança de postura enorme – forçada por concorrentes-apenas-na-nuvem, por exemplo. Um caso é que agora qualquer um (até eu!) pode ter acesso a serviços de relacionamento com o consumidor (CRM) na nuvem por um valor médio de US$ 30 por usuário com uma nova SAPStore.com. Isso que eu chamo de adaptação ao novo mundo.  
 
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Disclaimer: ZTOP veio a Orlando de 787 a convite da SAP. Fotos e opiniões são nossas.

 

 

Escrito por
Henrique Martin