AMD Fusion quer ser o esmagador de Atoms
Início » HARDWARE » AMD » AMD Fusion quer ser o esmagador de Atoms

AMD Fusion quer ser o esmagador de Atoms

RESUMO

Com o Fusion, a AMD colocou no mercado seu conceito de CPU e GPUs integrados. E o alvo é um dos terrenos que a Intel domina sozinha: máquinas com Atom.

A AMD prometeu por anos, e finalmente colocou no mercado seu conceito de CPU e GPUs integrados. E o primeiro alvo é um dos terrenos que a Intel domina praticamente sozinha: netbooks e nettops com Atom. Será que a AMD consegue virar esse jogo com o Fusion?

O Fusion, a união de CPU com GPU poderosa no mesmo chip, é uma promessa da AMD já de alguns anos. Desde que a fabricante de chips comprou a canadense ATI – famosa pela sua tecnologia em GPUs – há um movimento forte para unir os dois chips em apenas um.

Assim, com uma só tacada, consegue-se reduzir custos de produção e aumentar a velocidade com que ambas as unidades lógicas “conversam” entre si. Falando assim, parece ser exatamente o que a Intel faz com o Sandy Bridge. Mas a diferença crucial é como isso é feito, e a estratégia que a AMD escolheu para atingir a enorme fatia de mercado da concorrente.

O conceito do Fusion é radical. A ideia é enterrar a noção de CPU e GPU separadas e fazer com que elas trabalhem em paralelo, cada uma nas tarefas em que é melhor. Na verdade, Fusion é o nome da tecnologia. O nome oficial da primeira APU disponível para desktops é E-350. No mesmo chip vêm o North Bridge, a CPU de dois núcleos (codinome Bobcat, de 1,6 GHz por núcleo) e GPU compatível com Direct X 11 (Radeon 6130, rodando a 500 MHz). E tudo com TDP de apenas 18 W.

Essa baixa dissipação permite que o sistema utilize refrigeração passiva, o que pode ser bem bacana para PCs de mídia ou máquinas para trabalho mais leve.

O E-350 não usa placas-mãe do modo como estamos acostumados. O chip vem soldado na placa micro ATX. Ele não precisa de nada além do que vem nela para funcionar. É ligar a fonte, memória, HD e pronto. É um PC completo.

Bati um papo com Roberto Brandão, gerente de tecnologia da AMD para a América Latina, para entender melhor qual o objetivo com o Fusion.

Segundo Brandão, a APU começou seu ciclo de mercado inicialmente mirando nos Atoms, para subir gradativamente de categoria. O foco primário agora é o mercado de netbooks, tablets e PCs de entrada.

Esses PCs de entrada são uma categoria especialmente importante no Brasil. São aqueles computadores comprados em hipermercado, o primeiro PC de uma parcela grande da população. Esse tipo de máquina normalmente é bem limitada, não consegue lidar direito com vídeo ou conteúdo multimídia da web. Com o Fusion, será possível oferecer, em uma máquina de menos de R$ 1 mil, uma experiência mais rica, inclusive rodando alguns games de forma satisfatória.

As placas de vídeo são o calcanhar de aquiles dos PCs de baixo custo. Elas aumentam o valor de um produto em que cada real do custo conta na decisão de compra. Com uma opção simples de usar (é soldar tudo na placa, colocar no gabinete e pronto), o custo dimimui, aumenta a rentabilidade e, é claro, dá aos fabricantes uma importante alternativa de fornecedor de processadores.

O fator rentabilidade, aliado ao menor preço na loja, pode ser um fator fundamental para o sucesso da plataforma.

Aí está uma boa jogada: com maiores ganhos para o fabricante e para o revendedor, é possível encarar a pressão que a Intel faz com seu agressivo programa de marketing. Ela consegue oferecer várias contrapartidas, graças a uma estratégia bem-sucedida de vendas, que seduzem a cadeia produtiva.

Brandão afirma que existem vários produtos equipados com a plataforma Fusion prestes a chegar ao mercado (um dos primeiros foi o Sony Vaio Y), com vários fabricantes de peso no barco.  E não vão faltar chips para o mercado mundial, com milhões de unidades já fabricadas e outras mais no forno.

Essa ampla disponibilidade pode ser outro ponto crucial para o sucesso do Fusion. A Nvidia fez o ótimo Ion, um Atom com chipset decente, mas não conseguiu a penetração de mercado que merecia. Nos bastidores, ouvimos que isso acontecia porque a Intel não queria vender apenas a CPU Atom, mas também o chipset. E quando vendia, cobrava caro. Por pressão dos maiores clientes, ela até vende as CPUs para fazer as máquinas com Ion, mas o preço final acaba alto. E a Nvidia não pode fazer nada a respeito, pois depende da CPU da Intel para vender seu chipset.

No caso do Fusion, a AMD tem controle total da situação, e pode garantir com isso a estabilidade do fornecimento para a indústria. E esse tipo de planejamento é fundamental para colocar um produto na linha de montagem.

Agora é esperar para ver se o Fusion vai trazer a necessária diversidade ao mercado de máquinas de entrada e netbooks. Potencial há de sobra.

Interessante será quando o campo de batalha estiver no reino dos processadores mais parrudos, e o alvo for a família Core da Intel. Imagine uma máquina completa custando pouco mais que apenas o processador do concorrente…  Qual será a reação a isso?

Um pouco de história

A Intel, de um certo modo, foi responsável pelo surgimento de seu maior concorrente. Na época dos 286, por imposição contratual da IBM, seu maior cliente naquele período, ela precisou licenciar seu projeto para que houvesse um fornecedor alternativo de tecnologia. Depois de muita batalha judicial, a AMD conseguiu liberação para lançar seu projeto de 386, baseado diretamente no da Intel. Com seu AM386, a AMD começou realmente a concorrer no mercado de processadores, em escala muito menor.

O equivalente ao 486 dava uma surra nos Intel da mesma época, mas pouca gente chegou a usá-los no Brasil. A AMD, por algum tempo, foi conhecida como fabricantes de clones de X86, especificamente do Pentium, com o K5. Eram bons clones, em alguns sentidos ultrapassavam os concorrentes, mas havia um forte estigma de equipamentos de segunda linha. Até causa da evangelização da Intel frente aos fabricantes.

Apesar de injusta, a impressão de se tratar de um produto inferior era inevitável, pois a política de preços da AMD sempre foi muito agressiva. Como não gasta um absurdo de publicidade, ela consegue cortar um pouco do preço final. Mas na época dos 486s e Pentiuns, pouca gente via essa opção com bons olhos.

O jogo começou a mudar com o K6. Depois de comprar a NextGen, uma empresa formada por ex-engenheiros da Intel que tinha direito de usar algumas tecnologias cruciais da arquitetura X86, a AMD conseguiu colocar no mercado um processador com capacidade de cálculo de ponto flutuante, instruções MMX e até um conjunto de instruções proprietário que acelerava o cálculo poligonal, o 3D Now, que pouco foi usado pela indústria de software, mas tinha uma vantagem palpável sobre o que a Intel oferecia.

Aí, começou para valer a corrida pelo mercado e inovação. A AMD introduziu conceitos importantes com o Athlon, como cache L2 integrado à CPU. Ele tinha performance superior aos Intel análogos da época, mas esquentava horrores por causa disso, obrigando o uso de coolers monstruosos.

Ao longo dos anos, o projeto das CPUs AMD foi sendo refinado, ao mesmo tempo que o poder aumentava na mesma proporção que os produtos da concorrente principal. A frequencia de operação foi baixada, o que reduziu significativamente a geração de calor.

A AMD foi a primeira a lançar um processador de 64 bits, e ainda integrou o controlador de memória ao projeto da CPU, diminuindo o trânsito de dados gerenciado pelo chipset e aumentando a eficiência geral do sistema. Tudo bem que na época o usuário comum não tinha muito a fazer com esses 64 bits, pois praticamente não havia nada o que rodar, a não ser um build bem experimental do Windows e o game Unreal. Mas estava registrado que a AMD havia saído na frente.

Hoje, a briga está mais equilibrada, e a AMD tem conseguido aumentar sua participação no mercado de forma consistente. O Fusion é a maior aposta da empresa, e sua melhor arma contra o poderio da Intel. Agora é esperar que o novo capítulo dessa história seja escrito.

9 comentários
  • Faltou só falar sobre o processo aberto pela UE, por concorrência desleal, da intel, por esta ter pago fabricantes para que adotassem menos o processador do concorrente (embora não esteja no escopo da matéria). Mas, enfim. Tô louco para ter um device com o fusion!

  • O triste é ver uma máquina como a da sony custando o dobro de um netbook.
    O jeito é esperar a chegada dos modelos da Acer, HP (e o TP X120).

    Em tempo, a tipografia melhorou muito ou é impressão minha?

  • Gostei da parte historica.
    Lembrando que o grande estigma da AMD na época dos K5, pelo menos no Brasil, foi a parceria com as placas PcChips.
    O processador poderia ser uma maravilha, mas a placa… ¬¬

    Minha esposa comprou um à época (ainda era namorada) e eu penava pra configurar o bichinho pra extrair algo de qualidade (mudava latencia das RAM, deixava o windows o mais limpo possível, etc)

    Com essa estratégia da AMD, eu quero um UMPC/NetTop/Media Center que me permita assistir videos FullHD, pois essa plaquinha GMA500 da intel é igual a político: promete, promete e não faz NADA!
    Se ela conseguir isso num preço de até 2.000, pode considerar um futuro comprador que sairá da intel desde os tempos de Pentium 166Mhz da Creative Blaster!

    • o modelo da Sony já está listado a menos de 2mil, 1.800 com o E350. (um note)
      Mas considerando o preço do processador (pros OEMs), é quase abusivo esse valor (a não ser que seja Milspec :p)

      Se até o ThinkPad X100 aparece por menos de 900, não consigo justificar pagar mais de 1200 pra um note com o Brazos.